segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Celulares da Motorola

Moto G, o melhor smartphone barato que você pode comprar

Moto G: um Moto X mais rústico

Moto G com o Droidinho.
Foto: Rodrigo Ghedin.
O Moto G preserva o visual característico do irmão mais velho, o Moto X: traseira arredondada, frente livre de botões físicos e marcas da fabricante, desenho bonito, ergonômico e sem muita invencionice. Se à primeira vista eles se parecem muito, com pouco tempo de uso diferenças importantes surgem.
Poderia resumi-las à qualidade do acabamento, mas vale a pena elaborar melhor. O Moto X parece um relógio suíço: ele não tem sobras, tudo é bem encaixado, firme, dá a impressão de ser um projeto redondo, fechado. Já o Moto G é claramente uma “variante”. Pela tela menor, sobra espaço no rodapé da parte frontal. Em vez de hermeticamente fechado, existe uma tampa atrás que esconde o (ou “os”, dependendo da versão) slot para o Micro SIM — e bem chatinha de remover. A qualidade do plástico da tampa também não é das melhores. Ele ainda é mais pesado e mais grosso.
A capa traseira preta é ruim.
Foto: Rodrigo Ghedin.
É um projeto visivelmente simplificado e as alterações visando o barateamento acabam afetando a usabilidade. Nada que impossibilite ou incomode o uso; na verdade, a empunhadura, mesmo com todas essas críticas, ainda é melhor do que a de muito smartphone que custa mais. Só não é tão natural, tão equilibrada quanto a do Moto X.
Não se assuste! Você verá muitas comparações com esse modelo superior porque… bem, eles são da mesma família e a melhor forma de ressaltar as (poucas) deficiências do Moto G é contrapondo-as às características do Moto X.

Review em vídeo

Desempenho surpreendente

Posicionado abaixo do Moto X, as configurações do Moto G são, pois, inferiores. Ele vem com um SoC Snapdragon 400, que apesar do nome e do processador com o dobro de núcleos, é mais fraco que S4 Pro do Moto X. Em vez do processador dual core Krait 300 rodando a 1,7 GHz do modelo anterior, o que move o Moto G é um Cortex-A7 quad core rodando a 1,2 GHz. A GPU também é melhor no X: uma Adreno 320, contra uma 305 no G.
O Moto G é bastante rápido.
Foto: Rodrigo Ghedin.
Essa sopa de letras e números significa o seguinte: o Moto X, apesar de ter um SoC com processador dual core e nomenclatura do ano passado, é mais poderoso que o que equipa o Moto G, um mid-range da atual leva de SoCs da Qualcomm. E mais versátil também, graças aos chips extras de linguagem natural e computação contextual, que constituem o que a Motorola chama de “sistema de computação móvel” X8.
O Moto G leva uma vantagem de marketing aqui, pois a Motorola pode alardeá-lo, como de fato está fazendo, como um smartphone com “processador quad core”. Não é mentira, mas mais uma prova de que núcleos, giga hertz e nomes comerciais não contam toda a história quando se tem o smartphone na mão, rodando apps e jogos.
Toda essa questão de desempenho vs. marketing é bem explorada pela Motorola, inclusive. Na apresentação do Moto G, Punit Soni, VP de Gerenciamento de Produtos, teve colhões de dizer que, mesmo com hardware inferior, o aparelho bate o Galaxy S 4 (Snapdragon 600) em várias ações, atribuindo à otimização de software (Android 4.3 quase puro, com promessa de atualização para o 4.4 agora em janeiro) essa vantagem que o hardware por si só não seria capaz de alcançar.
Existe certo exagero aí. O Moto G é rápido, sim, mas não a ponto de fazer frente com um dispositivo high-end. O Android é muito otimizado, a multitarefa, boa, e até jogos mais pesados, como Real Racing 3, rodam lisos nele, mas é perceptível que a tela não responde imediatamente aos toques e em situações exigentes o smartphone se atrapalha um pouco — telas rolam mais devagar que o esperado, apps demoram um pouco para responder.
Falando assim posso soar pessimista, mas não se engane: para um aparelho de R$ 600, seu desempenho é fabuloso. É o que eu esperaria de um mid-range na faixa dos R$ 1.000, e isso diz muito sobre a imbatível relação custo-benefício do Moto G.
Moto G e, ao fundo, Droidinho.
Foto: Rodrigo Ghedin.
Além do hardware simplificado, o Moto G é mais mundano, mais parecido com outros smartphones. Praticamente todos os truques que distanciam o Moto X da concorrência se perderam aqui. Adeus Google Now acessível por voz mesmo com o smartphone bloqueado, nada de notificações ativas, nem de abrir a câmera com dois giros do pulso. A Motorola colocou um LED simples e monocor ao lado da câmera frontal e só.
Algo bom nesse downgrade generalizado? A tela. É uma questão um tanto subjetiva, logo a você isso pode representar um retrocesso. No Moto G é usada uma tela LCD, ao contrário da AMOLED do Moto X. Ela é menos saturada (ou mais “lavada”), mas em um nível acertado, mais fiel à realidade. Por ser menor e manter a mesma resolução (1280×720), a densidade de pixels é maior, mas não a ponto de fazer qualquer diferença a olhos nus. Há telas melhores no mercado, mas nessa faixa de preço? De forma alguma. A tela é um dos pontos altos do Moto G e ainda por cima tem revestimento Gorilla Glass 3. Um feito absurdo (de bom!) para um smartphone que custa tão barato.
A autonomia do aparelho anda de mãos dadas com a coesão do seu conjunto. Graças a uma bateria de 2070 mAh, dá para sair de casa pela manhã com ela cheia e passar o dia despreocupado, usando-o moderadamente, em recarregá-la.

Câmera

Câmera ruim no Moto G.
Foto: Rodrigo Ghedin.
Dennis Woodside, CEO da Motorola, garantiu durante a apresentação do Moto G que a empresa não está tomando prejuízo com a venda de cada unidade. Desde o Nexus 4 esse fator passou a ter peso na análise de smartphones: é fácil fazer um bom custo-benefício se a fabricante consegue suportar a sangria de vendê-lo abaixo do custo de produção.
Essa declaração torna o Moto G ainda mais surpreendente. Não é como se ele fosse algo sobrenatural; para mim, o que a Motorola fez foi escolher bem onde investir o limitado orçamento disponível para a sua construção. Tela? É o que a gente mais vê! Façamos uma boa, pois. Câmera? Todo mundo entenderá se não for uma ótima e, convenhamos, muita gente nem consegue ver as deficiências de uma ruim.
Se você consegue, prepare-se para torcer o nariz para a do Moto G. O maior problema dela é a absurda falta de detalhamento: não espere definição em contornos mesmo quando houver bastante luz disponível. Se granulação e ruído o incomodam, é bom fazer vista grossa para as fotos em tamanho natural. A câmera, com 5 mega pixels e lente com abertura f/2,4, deixa a desejar. Em redes sociais, bastante redimensionadas, elas até passam — com um app de edição como o Snapseed dá para corrigir problemas mais aparentes mesmo em baixa resolução, como o aspecto lavado.
Repare nessas frutas em detalhe, como a definição fica bastante prejudicada com um crop em 100%:
Foto de frutas feita com o Moto G.
As frutas praticamente perderam o contorno. Foto: Rodrigo Ghedin.
Ou nessas árvores, como as folhas viram um borrão verde disforme nas áreas de sombra:
Detalhes se perdem com o Moto G.
As folhas ficam indistinguíveis em 100%.
Ou no ruído que se destaca no telhado do Mercadão de Maringá:
Ruído no telhado do Mercadão de Maringá com a câmera do Moto G.
O telhado, além da baixa definição, sofre com ruído mesmo quando a câmera usa HDR. 
O software da câmera é basicamente o mesmo do que vem no Moto X, já com as mudanças — o círculo central de focagem. A interface é limpa e basta tocar em qualquer parte da tela para disparar a foto. Comandos mais avançados (mas não muito) ficam ocultos em um disco na lateral esquerda; arraste o dedo de fora para dentro da tela, e eles aparecem.
Um Android puro, por favor
O Moto G vem com um Android quase puro.

A Motorola de 2013 tem motivos para adotar um Android mais puro, mas independentemente dele, mostra ao restante da indústria que o pedido que heavy users fazem há anos tem lá seu fundamento: o sistema como concebido pelo Google supera, fácil, qualquer skin ou modificação feita pelas fabricantes.
O Android 4.3 vem com tímidas mexidas, na maioria dos poucos casos apenas acréscimos em cima de um sistema muito otimizado e que reflete, no uso, as vantagens dessa abordagem. Ele é mais agradável e simples de mexer do que os alterados por Samsung, HTC, LG e todas as outras. Somado ao SoC intermediário, entrega uma experiência de uso muito agradável, excepcional para essa faixa de preço.
No que a Motorola interferiu, o fez de maneira competente. São, na maioria dos casos, apps: o ótimo Assist, que ajusta contextualmente algumas configurações do smartphone; o Moto Care, um canal de comunicação direto com o suporte da Motorola; o Migração, que ajuda a transferir fotos, contatos e outros dados de um aparelho antigo para o Moto G; e o Rádio FM, para… bem, para ouvir rádio FM.

Custo-benefício insuperável

A tampa traseira é removível.
O Moto G é vendido em quatro versões, com preços que variam de R$ 649 a R$ 999. São elas:
  • 8 GB, um SIM card: R$ 649
  • 8 GB, dual SIM: R$ 699
  • Colors Edition (16 GB, dual SIM, quatro capas coloridas): R$ 799, lançamento em 18 de novembro
  • Music Edition (16 GB, dual SIM, fones de ouvido Tracks AIR da Sol Republic): R$ 999, lançamento no começo de dezembro
A que analisei foi a segunda, com 8 GB de espaço interno e suporte a dois SIM cards. Não a recomendo, nem a mais simples, com apenas um SIM card, pelo espaço interno. Ter 8 GB, ou os 5,5 GB que restam descontado o espaço que o Android exige, é um exercício constante de comedimento. Você não consegue sincronizar muitas músicas, nem baixar jogos, ou ativar a sincronia de fotos via Dropbox/Google Drive e esquecer que elas ficam armazenadas, consumindo espaço no seu smartphone. E esse policiamento constante é chato.
A Colos Edition é bacana, não só pelo dobro do espaço, mas por trazer capinhas de outras cores. É uma questão meramente estética, mas a capa preta padrão é tão ruim que faz até quem não liga muito para personalização, como eu, querer trocá-la. O material é pobre, sem textura alguma (leia-se liso) e colhe mais digitais que a própria tela. Ao final de um dia de uso, parece que você comeu frango frito e não limpou as mãos antes de usar o Moto G.
Leve em conta, ainda, que o varejo anda bem assanhado com promoções. Não é difícil encontrar o Moto G beirando os R$ 500 e, nessa faixa, não pense meia vez: ele bate toda a concorrência. Mesmo smartphones de categorias superiores e novos, recém-lançados, não fazem frente ao Moto G. Eu não sei como a Motorola chegou a esses valores e ainda consegue extrair lucro de cada venda, mas olha… meus parabéns. Esse smartphone chacoalha sem dó o mercado de smartphones.
Dennis Woodside declarou que o Moto G é o smartphone para os cinco bilhões de pessoas abandonadas pelas fabricantes. A estratégia das outras tem sido distribuir smartphones capados e severamente limitados. “Não pode comprar um high-end? Se vire com isso aí”. Elas precisarão mudar o discurso, rever a estratégia, dar mais atenção à parte de baixo da tabela.
Com exceção de um aparelho antigo e que teve grandes cortes no preço, o Nexus 4, e do Moto X quando em promoção (ou, ainda, se você precisa de 4G, recurso do qual o Moto G carece), hoje quem quer um smartphone por menos de R$ 1.000 não tem motivo para comprar outro que não o Moto G. É o melhor smartphone barato que você pode levar no momento.

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